Permacultura em São Thomé das Letras-MG

Conhecida como uma cidade envolta em misticismos, São Thomé das Letras-MG atrai pessoas de todo tipo. Por essas bandas, muitos são os relatos de avistamento de discos voadores, contato com criaturas místicas da natureza e seres intraterrenos. Andando pelas ruas de pedra, diversas estátuas e pinturas contam as lendas do vilarejo, que possui figuras icônicas como Chico Taquara, antigo morador que, dizem, se comunicava com os animais. Nos arredores da cidade, alguns centros estudam afundo saberes ancestrais, crenças pagãs e terapias holísticas diversas.

Essa concentração de manifestações atípicas garante a cidade um ar bem peculiar, basta olhar ao redor para ver que a população é composta não só de nativos, mas também por muitas pessoas que buscam ali um estilo de vida alternativo. São Thomé das Letras é um local de encontro de hippies, místicos, artistas e pessoas que quebram padrões sociais. Não por acaso, a permacultura vem crescendo, principalmente na zona rural da região.

Foi ali que Kah Maya e Fabiano Druida, um casal de permacultores decidiu fundar o Espaço Rosa dos Ventos Permacultura. Um lugar de experimentação que realiza vivências, cursos e multirões com o intuito de expandir os conhecimentos permaculturais. O espaço que vem sendo erguido aos poucos, ao longo dos encontros, é fruto do trabalho do casal em conjunto com as diversas pessoas que por ali passam e deixam sua contribuição. Atualmente eles contam com um banheiro seco, uma cozinha aberta, uma bela horta/jardim – onde crescem plantas que alimentam e curam – e um ateliê/casa que está sendo finalizado.

Durante os dias de vivência que pude passar lá, iniciamos a construção de um chalé de hiperadobe em formato de cogumelo. Além da experiência pra lá de divertida, que foi subir uma construção com esse formato inusitado – e que combina tão bem com o imaginário da cidade –, as trocas que só a experiência prática e o convívio com pessoas que carregavam habilidades diversas possibilitou foram inestimáveis. Quando não estávamos bioconstruindo, era o momento de trocar sementes crioulas que um carregava; aprender a fazer artesanato com outro; ou de explorar as matas e cachoeiras da região.

A bioconstrução foi feita no Cogumelos Camping Rock, vizinho do Espaço Rosa dos Ventos, o que indica que a presença do casal ali já está surtindo efeito na vizinhança, que está abrindo espaço para alternativas mais sustentáveis. Em 6 dias de trabalho foi possível subir toda a estrutura das paredes e reboco, com uma equipe de 7 pessoas. A fluidez do trabalho acontecia por conta da intensa troca de experiências e uso da intuição, que cada um trazia para o grupo. Por fim, até os donos do camping se interessaram e ajudaram com o processo de construção, que pode ser pesado, mas também muito divertido.

Além dos projetos no espaço permacultural, Kah Maya e Druida também possuem uma segunda casa, uma Kombi das antigas, na qual fazem viagem curtas ou longas, conhecendo outros espaços e participando de festivais culturais e artísticos, onde vendem produtos artesanais produzidos por eles e por amigos de todos os cantos.

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Apesar de ser um lugar apaixonante, São Thomé das Letras também sofre muito com a exploração das pedras que levam o nome da cidade, a atividade mineradora vem transformando a paisagem local e afetando drasticamente a natureza da região. Nesse contexto, o ato de difundir e conectar a permacultura na região se torna essencial. Assim como outros moradores e centros que educam para um modelo de sociedade mais sustentável na região, o casal mostra na prática que é possível pensar a vida sob outros parâmetros, e nada melhor do que uma cidade conhecida por acolher pessoas que pensam “fora da caixinha” para isso.


Confira algumas fotos do processo de biocontrução do chalé:

Sou um mineiro, com pai fluminense, que mora em São Paulo e que não pertence a lugar algum, ou a todos eles. Na busca de me definir, preferi ser do mundo, pois é dele que me vem toda a inspiração para viver. Nele encontrei a literatura, a arte, a filosofia e a ciência que me fizeram ultrapassar as limitações de espaço e tempo. Se me perguntam o que faço ou do que gosto, digo que sou um observador e que aprecio o silêncio que envolve toda a simplicidade do mundo. Recentemente me (re)apaixonei pela natureza, confesso que não consigo mais esquecê-la.