Usar a felicidade para medir desenvolvimento: é uma utopia ou realidade?

Você já pensou como seria se o desenvolvimento de um país fosse medido por um indicador de felicidade e não pelo Produto Interno Bruto (PIB)? Pois saiba que isso já existe no Butão, um pequeno reino distante e isolado, localizado na Ásia, na cordilheira do Himalaia. Em 1972, o rei Jigme Singye Wangchuck, declarou que o PIB não era uma medida significativa para o bem-estar e disse que o país deveria olhar para outras coisas, como bem-estar, promoção da cultura e preservação do meio ambiente.

No início começou como uma filosofia solta sobre o desenvolvimento do país e nas décadas seguintes foi tornando-se mais concreto, até que em 2008, o programa Felicidade Nacional Bruta (GNH – Gross National Happiness, em inglês) foi formalmente consagrado na constituição, junto com a criação do índice GNH e o centro de estudos GNH. Este programa é baseado em quatro pilares: político, econômico, cultural e ambiental. O índice GNH vê o bem-estar de uma maneira holística e olha para o perfil de cada pessoa usando os principais indicadores de bem-estar que estão agrupados em nove domínios.

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Os nove domínios são:

  1. Bem-estar psicológico: explora como as pessoas experienciam a qualidade de suas vidas. Ele inclui espiritualidade, avaliações de satisfação com a vida e reações emocionais em relação a eventos que acontecem na vida, como as emoções positivas e negativas.
  2. Saúde: inclui a situação da mente e do corpo humano, incluindo estados físicos e mentais. Uma qualidade de vida saudável nos permite realizar nossas atividades diárias sem fadiga excessiva ou estresse físico.
  3. Uso do tempo: analisa a natureza do tempo gasto em atividades como trabalho, lazer, cuidado e sono, e destaca a importância de manter um equilíbrio harmonioso da vida profissional.
  4. Educação: inclui educação formal e informal e avalia o conhecimento, valores e habilidades mais amplos de cada pessoa.
  5. Diversidade cultural e resiliência: mostra a diversidade e força das tradições, incluindo festivais e artes criativas.
  6. Vitalidade da comunidade: estuda relacionamentos e interação dentro das comunidades e entre familiares e amigos. Abrange também práticas como voluntariado.
  7. Bons critérios de governança: avalia como as pessoas percebem as funções governamentais e avalia a entrega de serviços públicos. Explora o nível de participação das pessoas em eleições e decisões do governo e a avaliação delas de vários direitos e liberdades.
  8. Diversidade ecológica e resiliência: acompanha as percepções e avaliações das pessoas sobre condições ambientais em seus bairros e seus comportamentos ecologicamente corretos. Abrange também riscos como incêndios ou terremotos.
  9. Padrões de vida: este domínio refere-se ao nível de conforto material, conforme medido por renda, condições de segurança financeira, habitação e propriedade de ativos financeiros.

Cada domínio é igualmente ponderado. Dentro dos domínios existem diferentes pesos para os indicadores. Para medir o GNH, é analisado em qual dos indicadores-chave cada pessoa alcançou suficiência e aplicado os pesos dos indicadores. Isso gera uma pontuação. Se uma pessoa tiver suficiência em pelo menos dois terços, ela é considerada “feliz” em termos do índice GNH.

Em 2015 foi publicado um estudo revelando os resultados da análise deste índice de Felicidade Nacional Bruta:

  • 91,2% dos butaneses são felizes (divididos em três categorias: limitadamente, amplamente ou profundamente felizes).
  • 43,4% dos butaneses são amplamente ou profundamente felizes, em comparação com 40,9% em 2010.

Em todos os grupos:

  • Os homens são mais felizes que as mulheres
  • Pessoas que vivem em áreas urbanas são mais felizes do que residentes rurais
  • Pessoas solteiras e casadas são mais felizes do que viúvas divorciadas ou separadas
  • Pessoas mais educadas são mais felizes
  • Os agricultores são menos felizes do que outros grupos ocupacionais.

O gráfico abaixo mostra os valores de felicidade subjetiva (linhas azuis) e níveis de renda (linhas vermelhas) do Butão. Os valores foram medidos pelo Centro Interno para estudos do Butão em cerca de 780.000 pessoas, de todas as faixas etárias, entre 2010 e 2015.

O PIB cresceu anualmente desde 1992 e o seu rendimento nacional bruto per capita está agora em níveis recordes em termos reais, de acordo com o Banco Mundial. E a taxa de desemprego não ultrapassou 4% em mais de duas décadas e atualmente fica em 2,5 por cento.

Em uma turnê realizada na Austrália, o diretor executivo do Centro de Estudos GNH, Dr. Saamdu Chetri, disse: “Estamos dizendo, OK, vamos crescer tecnologicamente, cientificamente, mas manter a respeito da natureza e do humano nesse parâmetro. A filosofia GNH poderia ser adotada aqui, mas ao invés de ser liderada pelo governo, como é no Butão, precisaria vir das bases. E ressaltou a necessidade de mudanças econômicas, não culturais. “O que podemos mudar é a partir da comunidade, porque nós somos a economia.”.

Talvez o lugar onde você mora atualmente esteja longe de desenvolver um índice parecido com esse e você não tenha planos de se mudar para o Butão. Enquanto isso, que tal tentar avaliar a sua vida e ver quais desses nove domínios você está desenvolvendo e se você se considera feliz? Talvez ainda não sejamos capazes de mudar a realidade de uma cidade ou país, mas se conseguirmos mudar a nossa realidade e a realidade ao nosso redor podemos mudar as nossas vidas e nos sentirmos felizes. Aceita o desafio?

Sou paulistana e desde 2009 decidi me mudar para a ilha da Magia (Florianópolis, SC), pois sentia falta do contato com a natureza. Sou neta de italianos e aprendi desde pequena a gostar de mexer na terra e cuidar das plantas, quando ajudava meu pai com a hortinha dele. Sou bióloga MSc., educadora ambiental e aromaterapeuta. Adoro aprender e compartilhar assuntos que proporcionem uma vida em melhor harmonia consigo mesmo, com os outros seres e com o planeta.

www.natalieandreoli.com.br

2 opiniões sobre “Usar a felicidade para medir desenvolvimento: é uma utopia ou realidade?

  • Reply Anatalicia Ferreira Pinto Figueiredo 11 dezembro, 2017 at 18:12

    Quero ficar alguns dias neste lugar ,aprendendo com essas pessoas como viver assim,porque ta difícil viver sendo medida pelo Produto Interno Bruto.

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