Construção Natural: O Bambu na Arquitetura

Podendo ser pequenino ou gigante, com fibras resistentes e brotos macios, o bambu esta presente nas nossas vidas há milhares de anos. Recurso natural, rapidamente renovável e abundante no planeta, o bambu quando bem usado pode nos tratar muito bem, e ele tem infinitas utilidades. Na arquitetura, pode ser estrutura, vedação ou cobertura, estar nos móveis, na esteiras, nos tecidos. Por este e outros motivos, muitas culturas desenvolveram uma relação espiritual com esta planta, sendo parte de sua cultura.

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Com mais de 1,4 mil espécies identificadas na Ásia, na África e na América, esta gramínea arborescente oferece muitos benefícios ambientais quando bem manejada. Dentre estes benefícios está a fixação de gás carbônico, produção de biomassa, regulagem dos recursos hídricos e uma rápida renovação. O Brasil é o país com mais diversidade de espécies nativas das Américas, estas, porém são pouco conhecidas, sendo as espécies mais utilizadas a Bambusa Tuldoides, a Bambusa Vulgaris e o Dendrocalamus Giganteus, que foram introduzidas nos ecossistemas locais.

[Que tal construir uma casa utilizando bambu]

O bambu possui fibras de celulose longas e alinhadas que crescem verticalmente, sendo elas resistentes e flexíveis. Sua estrutura tubular oca, produto da evolução para resistir aos esforços do vento em seu habitat, é ótima em resistência para uso na construção civil. É comparável ao aço na resistência à tração e ao concreto na compressão, contudo ensaios com a espécie Guadua Angustifolia demonstraram que há maior resistência à tração do que à compressão. Variáveis como espécie, diâmetro, espessura de parede e idade de colheita também influenciam nas propriedades físicas das peças de bambu. A viabilidade de se utilizar o bambu como substituto do aço dentro do concreto armado está sendo estudada, apresentando bons resultados.

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O bambu em evidência

Através da experimentação, da retomada de conhecimentos antigos e de anos de estudo e trabalho, a arquitetura em bambu têm obtido uma visibilidade internacional, abrindo caminho para que mais pessoas se interessem nesta planta como matéria prima para construir. A valorização deste material é importante para que ele deixe de ser associado somente à estruturas temporárias e, como na Ásia e na América Central, e seja reconhecido como um material nobre, podendo ser utilizado em larga escala e para diversos fins, inclusive indicado para construções anti-sísmicas, por sua flexibilidade.

A parceria do arquiteto colombiano Simón Velés com o artesão Marcelo Villiega deu vida à diversos destes projetos, localizados, principalmente, na América Central. Suas estruturas são ousadas, elegantes e tiram o melhor das qualidades que o bambu oferece. John Hardy e sua filha, Elora Hardy, também são uma referência quando se trata de arquitetura em bambu, principalmente conhecidos pelo projeto Green School, em Bali.  Escritórios como o Tyin Tegnestue (Dinamarca), Al borde (Equador), kengo kuma (Japão) e ibuku team (Bali) são outros que, contando com as habilidades da mão de obra local e utilizando maquetes para projetar, alcançaram lindos resultados ao usar esta grama gigante. Estas arquiteturas têm mostrado a versatilidade e viabilidade do uso desta planta na construção.

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Técnicas e cuidados

Mesmo sendo inúmeros os benefícios sobre o bambu, ainda há algumas limitações que devem ser consideradas, além de estudos e experimentações a serem feitos. O bambu é uma matéria orgânica e, se não for devidamente tratado, pode ser afetado por fungos e brocas, causando danos estruturais. Esta planta também está suscetível, como outros materiais, à contração e dilatação por mudanças de temperatura e à absorção de água. Há técnicas de tratamento naturais, através de água ou de fogo, e químicas, sendo o mais comum o uso do bórax e do ácido bórico.
É recomendado o tratamento em qualquer situação que o bambu seja utilizado, mesmo em técnicas mistas como o bambu-a-pique (taipa de mão com tramas de bambu), onde que o bambu está revestido com uma massa de terra crua, ou o bambucreto, onde se encontra dentro do concreto, como aço. É necessário que o bambu não tenha contato com a umidade do solo, devendo ser afastado do chão no mínimo 40 centímetros. Grandes beirais e coberturas evitam que o material esteja em contato com as intempéries (chuva, sol) assim aumentando sua vida útil e reduzindo gastos com manutenção.

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Possibilidades de aprendizado no Brasil

Se seu desejo é construir com bambu, é importante aprender junto aos mestres bambuzeiros como trabalhar com este material da melhor forma, ou contratar profissionais especializados na área que possam ser facilitadores deste processo. No Brasil, há profissionais trabalhando e se capacitando nas diversas etapas de uma construção em bambu, desde seu cultivo e manejo, até o seu tratamento e utilização para construção.

No Tibá-Rio (Bom Jardim, RJ) de 1 a 30 de setembro de 2016, ocorre um programa de aprendizado intensivo, voltado para a construção com bambu, com a equipe do escritório Bambuê, de Fabiana Carvalho e Leonardo Soares. O Instituto Ebiobambu (Escola de BioArquitetura e Centro de Pesquisa Experimental em Bambu) também oferece, regularmente, programas de aprendizado. Em Florianópolis, o sítio Menina do Mato, da empreendedora social Adriane Ferreira, em parceria com a Margem Arquitetura e a doutoranda Andrea Jaramillo, que trabalha com construções com bambu no Equador e no Brasil desde 2003, estão facilitando eventualmente pequenas oficinas sobre construção com bambu.

Carolina Dal Soglio é arquiteta e urbanista, co-criadora do ADAMÁ Bioarquitetura, grupo de profissionais que trabalham com arquitetura bioclimática e bioconstrução. Confira nosso trabalho em www.adama.arq.br.

Referências

MINKE, Gernot. Manual de construção com bambu. 2010.
PEREIRA, Marco A. R. e BERALDO, Antônio L. Bambu de corpo e alma, 2010
LENGEN, Johan van. O Manual do Arquiteto Descalço, 2002.
CARVALHO, Fabiana. A viabilidade construtiva do Bambu: pela ótica do pensamento integrado e vivência da cultura construtiva da colômbia no ritmo da bicicleta. Trabalho final de graduação pela UFF.
GHAVAMI, Khosrow  e  MARINHO, Albanise B. Propriedades físicas e mecânicas do colmo inteiro do bambu da espécie Guadua angustifolia. Rev. bras. eng. agríc. ambient. [online], 2005.

Links sobre o assunto:

Ted Talk: Casas Mágicas feitas de Bambu – Elora Hardy
Ted Talk: O sonho da Green School – John Hardy

Salvar

Criada na Ilha de Santa Catarina, Carolina é arquiteta e urbanista. Desde pequena se interessa em preservar e estar em contato com a natureza. Para aliar seu amor por ecologia com a possibilidade de criar espaços mais sustentáveis, escolheu cursar arquitetura e encontrou no curso muito mais que esperava. Acredita que o arquiteto deve ser um facilitador no processo de concepção de um espaço, pensando de forma sistêmica e qualificando as relações das pessoas com o lugar. Co-criadora do grupo Adamá Biorquitetura, realiza trabalhos e pesquisa na área de arquitetura bioclimática e bioconstrução.

www.adama.arq.br/